domingo, 20 de fevereiro de 2011

Material Substituto Para Fabricação de Chumbadas

oje eu iria pescar em Massarandupió com o Adelson, André Barbosa e o Deco Loureiro, mas uma forte virose derrubou-me. Fiquei também sabendo que o Adelson está fora de combate desde a sexta feira pelo mesmo motivo. Aproveitei então para fazer este post.

Não sei por qual razão, fui parar em uma página de uma companhia chinesa propondo o uso do tungstênio para "chumbadas" e "jigs "de pesca. Como originalmente naquela página há traduções para várias línguas, deduzi que este metal abunda na China, pois foram criados vários "sites espelhos", como faz o Mercado Livre, para dar visibilidade ao que se quer vender. Clique aqui para ver.
O amigo deve estar se perguntando qual o motivo deste post se duvidamos do potencial maléfico do uso do chumbo na atividade de pesca, principalmente na pesca esportiva, já que esta não possui dimensão para causar qualquer dano significativo ao meio ambiente. A resposta é um projeto de lei que está na Câmara dos Deputados desde de 2004, o PL 4.076/2004, proibindo especificamente o uso de chumbo nas atividades de pesca. Clique aqui para vê-lo.

Não sou favorável ao uso do chumbo, gostaria de ter outro metal, ainda que um pouco mais caro, mas o projeto de lei na forma que está é uma verdadeira afronta ao bom senso.

Considerando que o material a ser substituído fosse o indicado no projeto de lei, veja figura abaixo, qual seria o tamanho de uma "chumbada" esférica de 125 gramas?


Pois bem, como não consegui achar em nenhum local o peso específico do material proposto, tive que calcular tomando por base as informações da figura acima informando que uma esfera de 30 mm de diâmetro pesa 43 gramas.

Então já que o volume da esfera é definido por (4x3,1416x0,015^3)/3 teremos então uma densidade de 3,040 t/m3. É muito pouco quando comparado ao chumbo que tem densidade de 11,040 t/m3, ou seja, quase quatro vezes maior. A densidade do tungstênio é 19,25 t/m3, mais de seis vezes a do material proposto.

Mas de que tamanho seria nossa "chumbada" esférica de 125 gramas feita com o novo material cerâmico? E se fosse feita de tungstênio? As respostas a essas perguntas estão na figura abaixo.
Nossa "chumbada" esférica "ecológica" de cerâmica teria então um diâmetro de 43 mm, exatamente do tamanho de uma bola de golfe. Visualmente a diferença de tamanho para uma "chumbada" de chumbo de 125 gramas seria a da figura acima. Pode até não parecer muito se você não pensar em termos aerodinâmicos, mas a diferença de área entre a "chumbada" de cerâmica e a de chumbo é de 104%.

Não tem idéia ainda? Pois imagine se você tivesse que viajar com seu carro em uma autoestrada com um bagageiro no teto cuja área frontal é do mesmo tamanho da área frontal do seu veículo. Acordou, agora?

Considerando a boa fé do ex-deputado, que quer despoluir os rios e ajudar a empresa de cerâmica de sua cidade, fabricante da tal chumbada, a "decolar", o que de fato ocorreria é que ao se tirar do mercado formal e legal a fabricação deste material, fatalmente a fabricação passaria para a clandestinidade, pois o produto substituto é inadequado e o chumbo é facilmente encontrato e é de fácil manipulação. Tudo isso por um risco e perigo que não foram técnicamente mensurados e avaliados. Como exemplo de situação legal contrária, temos a legalização dos microcomputadores e notebooks pelo governo Lula a uma aliquota menor, o que praticamente acabou com o contrabando e o estado passou a recolher os impostos que eram sonegados.

Como o produto alternativo proposto em lei é inadequado, nossos parceiros chineses que enxergam mais que deputados e lobistas, mesmo tendo os olhos amendoados, já tinham colocado no ar a solução "boa" deles.

Mas o tungstênio é viável?

O único fator a considerar é o preço, pois sua densidade de 19,25 t/m3 a faz ótima para a pesca esportiva. Por ser o tungstênio uma commoditie, podemos comparar seu preço internacional ao preço internacional do chumbo e inferir quantas vezes seu preço seria superior ao do chumbo aqui no Brasil. Na figura abaixo se verifica que o tungstênio custa 16 vezes mais que o chumbo.
Se considerarmos a dificuldade de trabalhabilidade, maior no tungstênio que no chumbo, vamos estimar que este custo seja de 20 vezes mais. Como estou comprando chumbos a R$ 16,00 reais o quilo, este passaria para R$320,00 o quilo e a nossa chumbadinha de 125 gramas que hoje compro por R$ 2,00 passaria a custar R$ 40,00. É mole?

No Brasil o tungstênio praticamente deixou de ser produzido devido ao baixo preço ofertado pela China. Se quiser saber mais leia o artigo do economista Jorge Luiz da Costa do DNPM, clicando aqui.

Quanto ao projeto do ecológico ex-deputado, embora tivesse recebido em uma das comissões um parecer contrário por indicar um fabricante específico para o material que substituiria o chumbo (item que foi retirado por deputados sérios), só foi arquivado devido ao propositor ter tido seu mandado negado pelos eleitores, não se reelegendo. Mas até o dia 01/07/2011, conforme o Estatuto da Câmara, o propositor pode desarquivar e dar continuidade, mesmo estando fora da atual legislatura. Vamos ficar de olho.

O projeto de lei que quase foi a plenário, mesmo sem conter na justificativa qualquer argumentação técnica, mas citando o fato de algumas aves nos USA comerem as esferas de chumbo confundindo-as com grãos, o que seria motivo para proibir o chumbo nas atividades de caça e não de pesca.

Na justificativa o ex-deputado também cita genericamente os males causados pela ingestão de chumbo, como se a pesca fosse a única atividade concorrente para o envenamento. Mas com todos esses vícios, ainda assim o projeto quase foi a plenário.

No projeto de lei o ex-deputado cita: "Devemos parar imediatamente de jogar lixo e detritos tóxicos em nossos rios e lagos, para termos água de boa qualidade no futuro." Como o ex-deputado é da bancada de São Paulo, fico a imaginar como o Tietê, a altura da Cidade de São Paulo, ficará maravilhoso sem as "malditas poluentes chumbadas". Não teremos mais enchentes. :-)

Como o chumbo está presente em quase todos os produtos da vida moderna, das tintas até o revestimento de cabos e composição de espumas, pelo que se costuma jogar no Rio Tietê imagino que a quantidade de chumbo perdido em um ano na atividade de pesca no Brasil seja bem inferior a quantidade de chumbo contida nos materiais descartados, no mesmo período, no Rio Tietê. E no entanto...

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